Homem de 53 anos, etilista e tabagista, em situação de rua, é internado com febre e dor toracolombar, com piora progressiva nos últimos cinco meses.
Nos últimos meses, o paciente tem procurado o PS diversas vezes, por dor na região da coluna, sendo medicado e liberado com sintomáticos.
Não há déficits no exame neurológico e existe intensa dor à percussão da coluna toracolombar.
Exames laboratoriais de admissão demonstravam PCR 124mg/L e VHS 101.
Qual sua hipótese diagnóstica?
RESPOSTA:
– Sindrômico: lombalgia com sinais de alarme (piora progressiva + febre + dado epidemiológico relevante = paciente em situação de rua)
– Topográfico: coluna vertebral toracolombar (provável envolvimento ósseo e partes moles, sem sinais de acometimento mielorradicular ao exame inicial)
– Etiológico: VITAMINE CDF (Infeccioso + provável: espondilodiscite bacteriana x tuberculose – Mal de Pott x Brucelose x Bartonella henselae; Neoplásico; Traumático – não relatado trauma na anamnese; doença degenerativa da coluna)
Espondilodiscite é uma infecção das vértebras, articulações intervertebrais ou discos.
Os fatores de risco são: idade avançada, diabetes mellitus, imunossupressão, bacteremia por dispositivos intravasculares (diálise, marca-passo, fístulas) usuário de drogas intravenosas, endocardite infecciosa e doença degenerativa da coluna.
Em geral, é causada por bactérias piogênicas, sendo a mais comum o Staphylococcus aureus. Agentes menos comuns que devem ser considerados são: Mycobacterium tuberculosis, Brucella sp. e Bartonella henselae. Raramente, os fungos podem ser a etiologia (Aspergillus e Candida).
A dor lombar é o sintoma mais comum da espondilodiscite, em geral localizada no segmento infectado. A maioria dos pacientes vai ter piora da dor ao longo de semanas a meses. Nos casos de tuberculose, a doença tende a ser mais arrastada.
A dor costuma ser exacerbada aos esforços e durante a noite e pode ser deflagrada pela percussão da coluna (como no caso acima).
Nem sempre a febre estará presente e pode estar ausente em até 50% dos casos de tuberculose e brucelose. Déficits neurológicos podem surgir com a evolução da doença e acometimento da medula e raízes.
O tratamento antibiótico dependerá da etiologia e abordagem neurocirúrgica pode ser necessária.
No nosso caso, o quadro clínico compatível, fatores de risco e neuroimagem favoreciam diagnóstico de Mal de Pott (espondilodiscite por M. Tuberculosis), sendo realizado a confirmação diagnóstica através de métodos moleculares.
Referências:
– Glassman I, Nguyen KH, Giess J, Alcantara C, Booth M, Venketaraman V. Pathogenesis, Diagnostic Challenges, and Risk Factors of Pott’s Disease. Clin Pract. 2023 Jan 25;13(1):155-165. doi: 10.3390/clinpract13010014.
– Netters Concise Neurology
– Continuum (Minneap Minn) 2021;27 (4, Neuroinfectious disease): 887-920